Trás-os-Montes e Alto Douro são as denominações de uma região de Portugal, com limites e atribuições, que foram variando ao longo da história. É uma das regiões de Portugal com maior número de emigrantes e uma das que mais sofrem com o despovoamento. O seu isolamento secular permitiu porém a sobrevivência de tradições culturais que marcam a identidade portuguesa. É, uma região dotada de uma beleza natural, que atrai o cinema português. A província de 1936 limitava a Norte e a Leste com a Espanha a Sul com a Beira Alta, e a Oeste com o Minho e Douro Litoral.
Lenda
Miranda do douro
Povoado erguido das escarpas do rio Douro, que lhe dá o nome, é o lugar com mais peso histórico no Planalto Mirandês.
A origem de Miranda do Douro como povoação ainda hoje gera alguma discussão entre os historiadores, mas os achados arqueológicos fazem-na remontar à Idade do Bronze. Existem apenas alguns indícios que Miranda do Douro "teria sido primitivamente um Castro, já da Idade do Bronze"
Sabe-se que "Miranda do Douro foi uma cidade importantíssima já no tempo dos romanos, que lhe deram os nomes de Contium, Paramica, Sponcia e ainda o de Cambetum Lubicanarum".
Os Serracenos ocuparam-na nos princípios do século VIII, crismando-a com o nome de Mir-Hândul.
Pertenceu ao convento romano asturiense e, na Idade Média, incluída na Diocese de Astorga, foi a região de Miranda do Douro, desde Picote à fronteira de Bragança, colonizada nos primeiros tempos da monarquia portuguesa por frades dos conventos leoneses de Santa Maria de Moreruela e de San Martin de Castañeda, situação que se manteve até ao século xv.
Quando o conde D. Henrique, príncipe de Borgonha tornado Grande de Espanha e um dos possíveis herdeiros de D. Afonso VI, dela tomou posse, encontrou-a em ruínas, quase deserta. Assim se manteve até que D. Afonso Henriques, reconhecendo-lhe importância como marco dos seus domínios em face do Reino Leonês, manda construir o castelo e concede-lhe carta de foral em 19 de Novembro de 1136, tal o empenho que o movia de ver o local repovoado.
Em 1117, D. Sancho I renova o foral afonsino e devido ao elevado número de população em redor do castelo vê-se obrigado a mandar construir uma outra cerca de muralhas de modo a abranger toda a povoação.
Durante o reinado de D. Afonso II e na guerra com o rei galego e leonês Afonso IX (auxiliado pelo irmão do monarca português, D. Pedro) perderam-se muitas terras acasteladas entre as quais Miranda do Douro. Terras estas que voltariam para o domínio do monarca português em 1213, graças à intervenção do rei de Castela. Em 1217 , D. Afonso II concede foral a Miranda do Douro.
D. Dinis sempre em andanças pelas terras fronteiriças manda reforçar as suas muralhas, torna-a vila e demarca o termo do seu concelho, separando-o do jugado de Algoso. Concede à vila, em 18 de Dezembro de 1286, novo foral e pede ao arcebispo de Braga, D. Frei Tello, que construa a sua igreja paroquial de Santa Maria Maior (1286-1292).
Mais tarde, em 1325, a povoação renovada e amuralhada é elevada à categoria de Villa, ad perpetuum. São também deste reinado os primeiros documentos escritos até agora encontrados.
É do reinado de D. Pedro a tradição de que foi em Miranda do Douro que o «Justiceiro» convocou o alcaide de Algoso, um tal Soeiro, acusado de uma grande vilania, pela prática do jus prima noctis, e aí o condenou à morte.
Nas guerras de D. Fernando com Castela (1371-1383), a vila resistiu a vários ataques mas acabou por ser tomada.
Assegurada a Independência, após o Interregno, a vila foi recuperada por D. João I e o castelo, bastante ofendido, restaurado (numa das faces da Torre de Menagem ainda hoje se vêem as insígnias do fundador da Dinastia de Avis). Ao sentir a vila carecida de defesa e população converteu-a em couto de hominiziados.
Foi no reinado de D. Manuel I que mais se incrementaram as relações comerciais com a vizinha província de Castela e Leão como consta da própria carta de foral dada por este monarca em 1 de Junho de 1510.
Em 1545, D João III pede ao Papa Paulo III a criação de uma diocese no nordeste português escolhendo a vila de Miranda do Douro para sede do seu bispado. O Papa acede por bula pontífice de 23 de Maio de 1545.
Por carta régia de 10 de Julho de 1545 o rei D. João III faz de Miranda do Douro uma cidade com o privilégio de mandar procuradores à Corte. A construção da Catedral inicia-se neste reinado.
Por iniciativa do conde de Mesquitela, cabo de guerra de D. João IV, renova-se a fortaleza, instala-se artilharia e levanta-se um possante baluarte mesmo em frente ao vale do Fresno (ainda hoje se vêem ruínas).
Em 1640 e durante as lutas da Restauração foi enorme o zelo patriótico do Coroa, para o prosseguimento da independência. É nesta altura que surge a Lenda do Menino Jesus da Cartolinha.
No reinado de D João V e durante a Guerra da Sucessão de Espanha, a praça de Miranda do Douro foi invadida. O governador da praça era o general Luís Machado auxiliado pelo sargento-mor Carlos Pimentel da Gama que foi subornado pelos espanhóis. Assim, na noite de 8 de Julho de 1710, o sargento-mor manda abrir a «Porta Falsa» e dá-se a invasão e ocupação da praça forte de Miranda do Douro.
A concentração de tropas para a recuperação de Miranda do Douro deu-se a 11 de Março de 1711. As tropas, 11 regimentos de Infantaria e 5 de Cavalaria, comandados por D. João Manuel de Noronha (conde de Atalaia), concentravam-se em Vimioso e em Alcanices (ocupada por forças portuguesas). Ao mesmo tempo, D. Francisco de Távora, comandante de cavalaria, procedia ao aprisionamento das barcas da passagem do rio Negro. A acção começa no dia 13, às 5 horas da manhã, com um bombardeamento do castelo. No dia seguinte, após um ataque sobre o flanco da praça, abre-se uma brecha na muralha. O comandante espanhol pede uma trégua de três dias que lhe é recusada. Vendo o exército português preparado para o ataque rende-se sem condições.
No reinado de D. José, Portugal recusa-se a aderir ao Pacto de Família, (1762), e vê se envolvido na Guerra dos Sete Anos ou do Mirandum.
Estando a cidade cercada e bombardeada pela artilharia de um corpo de exército, 30 000 homens comandados pelo Marquês de Sarriá, deu-se uma tremenda explosão no paiol da praça, onde se armazenavam cerca de 1 500 arrobas de pólvora. Desmoronou-se o castelo, uma parte da muralha e muitas dezenas de habitações. Morreram cerca de 400 pessoas da guarnição e da população. Miranda do Douro rende-se aos espanhóis.
Dois anos depois outro rude golpe: transfere-se para Bragança a sede da diocese. O Papa Clemente XIV ainda procurou conciliar a delicada situação, criando uma diocese em Miranda do Douro e outra em Bragança (bula de 10-7-1770). A solução durou pouco. Um novo Bispo mirandês, D. Miguel de Meneses, alegando a pobreza da pequena cidade ainda em ruínas, resignou, informando a Cúria Romana de que a cidade não podia ser para ele nem para nenhum outro sacerdote sede de um bispado.
O Papa Pio VI, por meio de nova Bula (27-10-1780), integra a diocese de Miranda do Douro na de Bragança. Muitas das alfaias litúrgicas da Sé mirandesa passam para Bragança e o povo diz "A sacristia está em Bragança, mas a Sé em Miranda" ao que contrapõem os bragantinos "Se fores a Miranda, vê a Sé e desanda".
Em 1780, a rainha D. Maria I mandou o engenheiro José Champalimaud de Nussane, sargento-mor de Infantaria, em exercício de funções em Chaves, realizar o Projecto de Reedificação da Praça de Miranda do Douro, projecto este que nunca passou do papel.
Miranda do Douro é deixada à sua sorte, fechada em si e na sua vil tristeza. Só em 1955 a cidade volta a ressurgir, com a implementação dos aproveitamentos hidroeléctricos de Miranda do Douro e Picote e com a ligação pela Barragem de Miranda do Douro às vizinhas terras de Espanha.
Receitas
Bola Mirandesa
Ø 1,5 kg de massa de pão ;
Ø 2 ovos inteiros ;
Ø 1 dl de azeite ;
Ø 50 g de manteiga ou margarina ;
Ø 300 g de açúcar ;
Ø 40 g de canela em pó ;
Ø 500 g de farinha (aprox.) ;
Ø sal ;
Confecção:
Compra-se a massa na padaria, encomendando-a de véspera. A esta massa juntam-se os ovos e a mistura das duas gorduras derretidas em banho-maria, sem ferverem. Bate-se a massa com a ajuda de um pouco de farinha de modo a ficar com a consistência de uma massa que possa ser estendida com o rolo.
Unta-se um tabuleiro com manteiga ou margarina e polvilha-se com farinha.
Estende-se uma folha de massa, polvilhando a mesa e o rolo com farinha e forra-se o fundo e os lados do tabuleiro. Esta camada de massa não pode ficar com buracos, para evitar que o açúcar e a canela se escapem.
Divide-se a canela em sete partes e o açúcar em oito. Polvilha-se a massa com uma parte de açúcar e outra de canela. Estende-se nova camada de massa, esta já muito fina, e coloca-se de modo a cobrir apenas o fundo, isto é, a cobrir o açúcar e a canela.
Repetem-se estas operações até se obterem sete camadas de massa. Quando se colocar a última camada, unem-se os bordos de modo a obter um cordão. Polvilha-se a última camada de massa com a oitava parte do açúcar.
Leva-se a cozer em forno quente, sem exagero (190º C aprox.), durante cerca de 25 a 30 minutos.
Unta-se um tabuleiro com manteiga ou margarina e polvilha-se com farinha.
Estende-se uma folha de massa, polvilhando a mesa e o rolo com farinha e forra-se o fundo e os lados do tabuleiro. Esta camada de massa não pode ficar com buracos, para evitar que o açúcar e a canela se escapem.
Divide-se a canela em sete partes e o açúcar em oito. Polvilha-se a massa com uma parte de açúcar e outra de canela. Estende-se nova camada de massa, esta já muito fina, e coloca-se de modo a cobrir apenas o fundo, isto é, a cobrir o açúcar e a canela.
Repetem-se estas operações até se obterem sete camadas de massa. Quando se colocar a última camada, unem-se os bordos de modo a obter um cordão. Polvilha-se a última camada de massa com a oitava parte do açúcar.
Leva-se a cozer em forno quente, sem exagero (190º C aprox.), durante cerca de 25 a 30 minutos.
Folar de Valpaços
Ø 1 kg de farinha ;
Ø 12 ovos mais uma gema ;
Ø 350 g de gordura (150 g de manteiga, 150 g de banha, 50 g de azeite) ;
Ø 30 g de fermento de padeiro ;
Ø 1 frango pequeno corado ;
Ø 1 salpicão pequeno ;
Ø 200 g de presunto ;
Ø 1 chouriço de carne (linguiça) ;
Ø salsa
Confecção:
Peneira-se a farinha com um pouco de sal fino para um alguidar e faz-se uma cova no meio. Desfaz-se o fermento de padeiro em 0,5 dl de água tépida, deita-se na cova da farinha e vai-se envolvendo nela.
Colocam-se os ovos inteiros com a casca numa tigela e cobrem-se com água morna (não quente). Alguns minutos depois, abrem-se para dentro da farinha (sempre ao centro) e vai-se fazendo absorver a farinha trabalhando-a a partir do centro.
Juntam-se as gorduras e põem-se a derreter sobre lume brando. Juntam-se à massa e trabalha-se tudo adicionando a quantidade de água necessária para se obter uma massa fina. Em seguida, bate-se a massa com as duas mãos até esta se desprender completamente do alguidar. A massa considera-se bem batida quando à superfície aparecerem umas bolhas. Nesta altura polvilha-se a massa com um pouco de farinha, cobre-se com um pano e envolve-se o alguidar com um cobertor. Coloca-se num local tépido e onde possa receber mesmo uma certa quantidade de calor, mas indirectamente. Nestas circunstâncias, a massa leva mais ou menos 2 horas a levedar.
A massa está levedada quando atingir o dobro do volume e quando ao abrir apresentar um aspecto rendado.
Tem-se um tabuleiro rectangular, cujos bordos não devem exceder 8 cm de altura, muito bem untado com banha. Cortam-se o chouriço e o salpicão ás rodelas, o presunto ás tiras e desossa-se o frango limpando-o de peles e ossos e desfazendo-o em febras.
Divide-se a massa em três partes, devendo uma delas ser um pouco maior. Estende-se esta parte maior e forram-se com ela o fundo e os lados do tabuleiro. Espalha-se por cima metade da porção das carnes e salsa e cobre-se com a segunda parte da massa, sobre a qual se dispõem as restantes carnes. Finalmente, tapa-se o folar com a terceira parte da massa e unem-se os bordos a esta camada final.
Deixa-se o folar levedar novamente até aparecerem à superfície umas bolhinhas. Nesta altura, pincela-se com gema de ovo e leva-se a cozer em forno bem quente durante cerca de 45 minutos.
Colocam-se os ovos inteiros com a casca numa tigela e cobrem-se com água morna (não quente). Alguns minutos depois, abrem-se para dentro da farinha (sempre ao centro) e vai-se fazendo absorver a farinha trabalhando-a a partir do centro.
Juntam-se as gorduras e põem-se a derreter sobre lume brando. Juntam-se à massa e trabalha-se tudo adicionando a quantidade de água necessária para se obter uma massa fina. Em seguida, bate-se a massa com as duas mãos até esta se desprender completamente do alguidar. A massa considera-se bem batida quando à superfície aparecerem umas bolhas. Nesta altura polvilha-se a massa com um pouco de farinha, cobre-se com um pano e envolve-se o alguidar com um cobertor. Coloca-se num local tépido e onde possa receber mesmo uma certa quantidade de calor, mas indirectamente. Nestas circunstâncias, a massa leva mais ou menos 2 horas a levedar.
A massa está levedada quando atingir o dobro do volume e quando ao abrir apresentar um aspecto rendado.
Tem-se um tabuleiro rectangular, cujos bordos não devem exceder 8 cm de altura, muito bem untado com banha. Cortam-se o chouriço e o salpicão ás rodelas, o presunto ás tiras e desossa-se o frango limpando-o de peles e ossos e desfazendo-o em febras.
Divide-se a massa em três partes, devendo uma delas ser um pouco maior. Estende-se esta parte maior e forram-se com ela o fundo e os lados do tabuleiro. Espalha-se por cima metade da porção das carnes e salsa e cobre-se com a segunda parte da massa, sobre a qual se dispõem as restantes carnes. Finalmente, tapa-se o folar com a terceira parte da massa e unem-se os bordos a esta camada final.
Deixa-se o folar levedar novamente até aparecerem à superfície umas bolhinhas. Nesta altura, pincela-se com gema de ovo e leva-se a cozer em forno bem quente durante cerca de 45 minutos.
Papos-de-anjo de Mirandela
Ø 500 g de açúcar ;
Ø 3 ou 4 colheres de sopa de doce de fruta ;
Ø 8 ovos, mais 7 gemas ;
Ø 1 colher de chá de canela ;
Ø açúcar para polvilhar
Confecção:
Na preparação para estes papos-de-anjo pode ser utilizado qualquer doce de fruta (incluindo de abóbora), com excepção dos doces de maça, marmelada ou qualquer geleia.
Leva-se o açúcar ao lume com um copo de água (cerca de 2 dl) e deixa-se ferver até se obter ponto de espadana (117º C). Adiciona-se o doce escolhido e deixa-se ferver novamente até se obter o mesmo ponto. Retira-se então o doce do lume e depois de se ter deixado arrefecer um pouco adicionam-se os ovos, que foram previamente muito bem batidos com as gemas. Junta-se ainda a canela.
Distribui-se o preparado obtido por forminhas de queques muito bem untadas com manteiga e levam-se a cozer em forno moderadamente quente (cerca de 200º C). Desenformam-se e polvilham-se com açúcar.
Leva-se o açúcar ao lume com um copo de água (cerca de 2 dl) e deixa-se ferver até se obter ponto de espadana (117º C). Adiciona-se o doce escolhido e deixa-se ferver novamente até se obter o mesmo ponto. Retira-se então o doce do lume e depois de se ter deixado arrefecer um pouco adicionam-se os ovos, que foram previamente muito bem batidos com as gemas. Junta-se ainda a canela.
Distribui-se o preparado obtido por forminhas de queques muito bem untadas com manteiga e levam-se a cozer em forno moderadamente quente (cerca de 200º C). Desenformam-se e polvilham-se com açúcar.
Trajes Típico
Traje Domingueiro Feminino do Alto-Douro
Este traje compõe-se de blusa, saia e avental de formato semelhante ao traje domingueiro do Minho, sendo de realçar a configuração do colete. As cavas são profundas e o decote generoso, deixando antever o peito da camisa e a forma de ajuste por atilhos remete para a função de espartilho. No entanto, os “rabos” remetem este colete para uma origem barroca. O avental e a saia são decorados com finas rendas e fitas de veludo. O conjunto é acompanhado de um lenço branco e de um chapéu de veludo. Calça meias de renda brancas e chinelas de couro pretas.
A utilizadora deste traje é sem dúvida uma mulher de posses, pois adorna-se com fios, cordões e brincos de ouro e preciosas rendas e veludos, que em contrate com a severidade do negro mostram a figura de uma mulher habituada a gerir os seus haveres.
Casas Típicas
As casas tradicionais transmontanas são constituídas também por dois pisos. No piso de baixo ficavam os animais e os utensílios de trabalho e tudo o que foi obtido durante as colheitas e no piso superior os donos da casa. O telhado pouco inclinado, constituído por madeira e coberto de telhas de xisto. As alvenarias são de granito ou xisto, de variados tamanhos, empilhadas desordenadamente. As casas possuem escadas e varanda coberta na fachada frontal suportada por pilares de granito ao longo de extensão total da parede.