Douro Litoral

Região do Norte de Portugal e uma das onze províncias tradicionais. Ocupando a parte inferior da bacia do rio Douro. Tendo sido, juntamente com outras, criada como província tradicional portuguesa em 1936, embora extinta formalmente em 1976, a região do Douro Litoral com fronteira nas regiões do Minho, a norte ; de Trás-os-Montes e Alto Douro, a leste; da Beira Alta, a sudeste, e da Beira Litoral, a sul, sendo banhada pelo oceano Atlântico, a oeste. Esta região é constituída por 24 concelhos, distribuídos pelos distritos do Porto, 18 concelhos, de Aveiro, 4 concelhos e de Viseu, 2 concelhos. Abrange uma área aproximadamente de 3334 km2. O rio Douro é a espinha dorsal de toda a hidrografia da região, nele confluindo numerosos rios e ribeiros. É também nas suas margens que se situam os aglomerados populacionais mais significativos, com destaque para o Porto e para Vila Nova de       Gaia.
A área metropolitana do Porto concentra a maior parte da população e da actividade económica. A indústria, voltada para a exportação, constitui a principal actividade económica da região. O comércio e os serviços têm registado um franco progresso nas últimas décadas, fruto do desenvolvimento das acessibilidades e da elevação do nível de vida da população. O sector primário, com destaque para a agricultura, tem evoluído no sentido da especialização das culturas, mas a grande fragmentação da propriedade constitui um obstáculo a uma maior modernização e uma maior competitividade. Neste capítulo, são de destacar as produções de vinho verde, produtos hortícolas      e          frutas.
O Douro Litoral apresenta, nos seus principais pratos típicos, os rojões, habitualmente servidos com tripas enfarinhadas e sangue salteado, vários pratos de bacalhau, com destaque para os bolinhos, a mais recente, mas nem por isso menos conhecida, francesinha e as tripas à moda do Porto; lampreia, sável e sardinhas assadas; o arroz "malandrinho", de feijão ou de legumes variados, servido com filetes de pescada fresca ou polvo; as rabanadas, o leite-creme queimado e o Vinho do Porto, entre outros.
Esta região é muito rica em achados arqueológicos de toda a ordem. Encontram-se estações da época paleolítica, dólmenes, vestígios de indústrias mesolíticas, gravuras rupestres, castros e citânias. É também aqui que se situam algumas das maiores descobertas de peças de joalharia primitiva. Salientam-se o tesouro de Gandeiro, em Amarante; as arrecadas de ouro do Castro de Laundos, na Póvoa de Varzim, e os ouros de Estela, em Vila do Conde.

Lenda


O Senhor de Matosinhos (Porto)
Segundo a tradição, a imagem do Senhor de Matosinhos é uma das mais antigas de toda a cristandade. A lenda diz que esta imagem foi esculpida por Nicodemos, que assistiu aos últimos momentos de vida de Jesus, sendo por isso considerada uma cópia fiel do seu rosto. Nicodemos esculpiu mais quatro imagens mas esta é considerada a primeira e a mais perfeita. A imagem é oca porque nela teria Nicodemos escondido os instrumentos da Paixão e, nesses tempos de perseguição, os objectos sagrados eram escondidos ou atirados ao mar para escaparem à fogueira. Nicodemos atirou a imagem ao mar Mediterrâneo, na Judeia, e esta foi levada pelas águas, passou o estreito de Gibraltar e veio dar à praia de Matosinhos, perdendo na viagem um braço. A população de Bouças ergueu-lhe um templo e designou a imagem por Nosso Senhor de Bouças, venerando-a durante 50 anos pelos seus muitos milagres. Mas um dia, andava uma mulher na praia de Matosinhos a apanhar lenha para a sua lareira, quando encontrou um pedaço de madeira que juntou aos restantes. Em casa, lançou-o ao fogo mas este pedaço saltou da lareira não só da primeira, mas como de todas as vezes que ela o tentava queimar. A sua filha, muda de nascença, fazia-lhe gestos desesperados para que dizer qualquer coisa e, por fim, balbuciou, perante o espanto da mãe, que o pedaço de madeira era o braço de Nosso Senhor das Bouças. Assombrada pelo milagre a população verificou que o braço se ajustava tão bem à imagem que parecia que nunca dela se tinha separado. No século XVI, a imagem foi mudada para uma igreja em Matosinhos, construída em sua honra, ficando a ser conhecida por Nosso Senhor de Matosinhos.


A Cura do Infante (Viseu)
O culto de Nossa Senhora de Cárquere, na região de Viseu, já se fazia na época, anterior à nacionalidade, em que D. Rodrigo perdeu a Espanha para os Mouros, sendo provavelmente muito mais antiga. Durante a invasão moura, a imagem foi escondida num carvalho oco, juntamente com uma caixa de relíquias, os sinos da ermida e uma cruz de prata. Estes objectos foram aí esquecidos. Muitos anos depois, nasceu D. Afonso Henriques com um grave problema de saúde: o pequeno infante não tinha acção nas pernas, do joelho para baixo. O seu aio, Egas Moniz, teve um sonho em que lhe apareceu Nossa Senhora. A Virgem mandou-o ir a Cárquere e cavar em determinado local, onde encontraria os restos da ermida e a sua imagem. Deveria então mandar construir uma nova igreja e sobre o altar colocar o infante, passando aí uma noite de vigília. A construção terminou quando D. Afonso Henriques tinha cinco anos e as indicações da Virgem foram cumpridas. No dia seguinte, o infante andou e correu como uma criança saudável. O conde D. Henrique, perante este milagre, agradeceu à Virgem mandando construir um mosteiro junto à igreja que doou aos cónegos regentes de Santo Agostinho.




Lenda da Nossa Senhora de Vagos (Aveiro)
A pouco mais de um quilómetro da vila de Vagos, situada num local campestre, pitoresco e aprazível, convidativo à oração, fica a ermida de Nossa Senhora de Vagos cheia de história e tradição. Consta que antes do actual santuário, existiu outro a dois quilómetros deste de que há apenas vestígios de uma parede bastante alta, denominada «Paredes da Torre», cercada presentemente por densa floresta mas de fácil acesso. Tradições antigas com várias lendas à
mistura, dizem que perto da praia da Vagueira naufragou um navio francês dentro do qual havia uma imagem de Nossa Senhora que a tripulação conseguiu salvar e esconder debaixo de arbustos que na altura rareavam no areal.
Dirigindo-se para Esgueira, freguesia mais próxima, a tripulação contou o sucedido ao Pároco que acompanhado por muitos fiéis, veio ao local onde tinham colocado a imagem, mas nada encontrou. Dizem uns que Nossa Senhora apareceu a um lavrador indicando-lhe o sítio onde se encontrava o qual aí mandou construir uma ermida; dizem outras que apareceu em sonhos a D. Sancho primeiro quando se encontrava em Viseu que dirigindo-se ao local e tendo encontrado a imagem, mandou construir uma capela e uma torre militar a fim de defender os peregrinos dos piratas que constantemente assaltavam aquela praia. Mas parece que a primeira ermida e o culto da Nossa Senhora de Vagos datam do século doze. O que fez espalhar a devoção a Nossa Senhora de Vagos foram os milagres que se lhe atribuem. Entre eles consta a cura de um leproso, Estevão Coelho, fidalgo dos arredores da Serra da Estrela que veio até ao Santuário. Ao sentir-se curado além de lhe doar grande parte das suas terras, ficou a viver na ermida, vindo a falecer em 1515. É deste Estevão Coelho, que conta a lenda ter quatro vezes a imagem de Nossa Senhora de Vagos, sido trazida para a sua nova Capela, quando das ruínas da Capela antiga (Paredes da Torre), e quatro vezes se ter ela ausentado misteriosamente para a Capela primitiva. Só à quarta vez se reparou que não tinham sido transferidos os ossos de Estêvão Coelho, e que as retiradas que a Senhora fazia eram nascidas de querer acompanhar o seu devoto servo que na sua primeira Ermida estava sepultado; trasladados os ossos daquele, logo ficou a Senhora sossegada e satisfeita. Supõe-se que ainda hoje, à entrada do Templo existe uma pedra com o nome de Estêvão Coelho.
Outro grande milagre teve como cenário os campos de Cantanhede completamente áridos e impróprios para a cultura devido a uma seca que se prolongava há mais de quatro anos. A miséria e a fome alastrou de tal maneira por aquela região que todo o povo no auge do deserto elevava preces ao Céu, para que a chuva caísse. Até que indo em procissão à Senhora da Varziela, ouviram um sino tocar para os lados do Mar de Vagos. Toda a gente tomou esse rumo. Chegados à Ermida de Nossa Senhora de Vagos, suplicaram a Deus que derramasse sobre as suas terras a tão desejada chuva o que de facto sucedeu. Em face de tão grandioso milagre, fizeram ali mesmo um voto de se deslocarem àquele local de peregrinação, distribuindo ao mesmo tempo as pobres esmolas, dinheiro, géneros, etc. Ainda hoje essa tradição se mantém numa manifestação de Fé e Amor. Ainda hoje o pão de Cantanhede continua a ser distribuído em grande quantidade no largo da Nossa Senhora de Vagos.
Perto do actual santuário que pelas lápides sepulcrais aí existentes, remota
ao século dezassete, construíram-se umas habitações onde de vez em quando se recolhiam em oração os Condes de Cantanhede e os Srs. de Vila Verde. Hoje, já não existem vestígios dessas habitações.

Receitas


Aletria

Ingredientes:
                                                                             
·         100g de aletria
·         4 dl de leite
·         150g de açúcar
·         50g de manteiga
·         3 gemas
·         Casca de limão
·         Canela

Preparação:Coze-se a aletria em água durante 5 minutos e escorre-se.
Em seguida, leva-se o leite ao lume juntamente com a casca de limão, o açúcar e a aletria e deixa-se cozer. Depois de a aletria estar cozida, junta-se a manteiga e, fora do lume, misturam-se as gemas previamente batidas.
Leva-se ao lume apenas para que as gemas cozam ligeiramente.
Serve-se a aletria polvilhada com canela.


Beijinhos de Freira

Ingredientes:
·         1/2 kg de miolo de amêndoa
·         400 g de açúcar de pilé
·         12 gemas grandes
·          folha de obreia

Preparação:
Escalde as amêndoas durante um minuto. Escorra e rapidamente pele-as. Depois triture-as. Deite o açúcar peneirado num tacho de fundo espesso, junte-lhe 2,5 dl de água e leve ao lume. Deixe ferver até a calda atingir o ponto de cabelo.
Adicione então o miolo de amêndoa e apure mexendo constantemente até que o doce faça estrada no fundo do tacho. Retire do lume e deixe amornar.
Entretanto bata as gemas e junte ao doce. Misture bem e leve de novo ao lume (muito brando) sem parar de mexer até as gemas espessarem.
Quando o doce voltar a fazer estrada no fundo do tacho, está pronto.
Deixe arrefecer e disponha-o aos montinhos sobre uma folha de obreia.
Leve ao forno para secar e tostar ligeiramente.

Bolo Ensopado

Ingredientes:
·         2 Colheres de sopa de manteiga
·          1 Cálice de vinho do Porto
·          5 Ovos
·          1 Chávena bem cheia de farinha de trigo
·         1 Chávena de açúcar
·         1 Colher de fermento em pó
Para a calda
·         1 chávena de chá de açúcar
·          1 chávena de chá de agua
·         4 colheres de sopa de vinho do Porto
Confecção:
Bata muito bem 2 colheres de sopa de manteiga com o açúcar e o vinho do Porto.
Junte os ovos, um de cada vez e depois a farinha com o fermento.
Deite a massa dentro de uma forma untada e polvilhada, e leve ao forno já aquecido.
Passados 35 minutos verifique se o bolo está cozido.
Prepare entretanto a calda: leve ao lume o açúcar dissolvido na agua, ao levantar fervura conte 3 minutos e junte o vinho do Porto.
(Aqueça novamente a calda e deite em fio sobre o bolo acabado de sair do forno.)

Cavacas
Ingredientes:
Para as cavacas:
·         500 grs de farinha de trigo
·          1 colher de chá de bicarbonato de sódio
·          1 colher de chá (rasa) de sal
·          10 ovos inteiros
·          8 gemas
·          1/2 L de azeite
·          1 cálice de aguardente bagaceira
·          1 limão

Para a cobertura:

·         8 claras
·          500 g de açúcar pilé
Confecção:
Peneira-se a farinha com o bicarbonato e o sal para um alguidar.
Faz-se uma cova no meio onde se deitam 2 ovos inteiros e as 8 gemas, o azeite, a aguardente e a raspa da casca do limão.
Batem-se estes ingredientes à mão durante 1 hora (20 minutos na batedeira eléctrica). Depois juntam-se, um a um, batendo os restantes ovos inteiros.
Esta adição faz-se baseada para se poder observar a textura da massa.
Quando cobrir a mão, a massa está pronta, admitindo-se que não sejam necessários os ovos todos. Deixa-se a massa repousar cerca de 1 hora, depois do que é deitada às colheradas em tabuleiros ligeiramente untados com azeite e polvilhados com farinha. As colheradas de massa devem ficar bem distanciadas, porque a massa alastra. Levam-se as cavacas a cozer em forno bem quente (220º a 250ºC). Depois de cozidas e frias, as cavacas são cobertas com as claras batidas com o açúcar, devendo esta cobertura estar bem espessa o que se consegue, batendo. À medida que se vão cobrindo com a cobertura, dispõem-se as cavacas sobre caruma e põem-se ao sol a secar. Evidentemente que esta operação também pode ser feita numa estufa ou forno, desde que a temperatura não seja superior a 50ºC.

Trajes Típicos



Traje feminino de romaria e festa da Póvoa de Varzim 

O colete da mulher da Póvoa, de cor vermelha, ultrapassa a linha de cintura, utilizando atilhos para melhor enformar o corpo ao gosto e ao modo da sua utilizadora. A saia branca, muito rodada e vincada em cós plissado que ajusta e marca a silhueta feminina. Ao pescoço usa um lenço de forma quadrangular de algodão e na cabeça um lenço preto, também conhecido como cachené, estampado de vermelho com motivos florais. À cintura o “ourelo”, um cordão feito de fios de lã de várias cores, completa o conjunto.

Traje masculino de romaria e festa da Póvoa de Varzim

A camisola tricotada do pescador pelas mãos hábeis da mulher, reduz o seu corte ao essencial, uma abertura na cabeça, cavas e costuras laterais, sendo a gola virada. Os atilhos permitem utiliza-la aberta ou fechada. Os motivos decorativos, a vermelho e preto, identificam de imediato a profissão do seu utilizador, reconhecendo-se motivos náuticos, a coroa, as armas reais e as célebres “siglas”. Estas constituem sinais próprios de cada família e são utilizadas tanto no vestuário como nos apetrechos de pesca, marcam a tradição e traduzem o orgulho ancestral pela profissão como o mesmo sentido de dignidade e honra dos brasões nobiliáticos. As calças, são apertadas nas costas com presilhas e fivelas, sendo largas em baixo para poderem ser arregaçadas. À cintura, o homem poveiro enrola uma faixa de algodão de cor natural e na cabeça usa o “catalão”, um barrete de cor vermelha que ressalta na altura do traje.
A cor branca destes trajes indicia a proximidade do mar e das areias, pois o trabalho na terra não permite o uso de tonalidades claras e o sal mancha as cores escuras.


Casas Típicos


No Douro Litoral, encontramos alguns tipos de casas, as casas dos pescadores (construídas em madeira de pinho e pintadas com listas de várias cores, normalmente de dois andares, com escadas no interior feitas também de madeira) e os palheiros.


Casa rural, solar típico do Douro Litoral, do séc. XVI/XVII

Ribeira do Porto

Casa da Póvoa de Varzim